Itália nesta estação do ano é uma maravilha, quando as verdes pastagens cobrem os vales, os primeiros figos brotam, e as chuvas primaveris espalham pétalos de cerejeira por toda parte. Eu estava lá, para um congresso sobre «Holocausto e Oriente Médio: A História Amordaçada», organizada pelo grande professor Claudio Moffa, sujeito boa pinta, estilo Paul Newuman: Um italiano alto, magro, de olhos azúis-claros e feições nobres, esperto para pegar na contramão as ruelas duma só pista. Sua repulsa pelas proibições não só se limita aos sináis de trânsito: Parece ser suficiente pôr um cartaz de «entrada proibida» em qualquer parte, inclusive num debate histórico, para que ele arremeta de cabeça. Descobriu a parte mais quente e mais tabú do discurso européu e organizara um congresso, do qual participaram professores de História das Universidades de Siena e Calábria, Torino e Nápoles, Roma e Urbino, assim como escritores e jornalistas de toda Itália, sendo eu o único estrangeiro. O congresso fora realizado na Universidade de Moffa, em Teramo, uma cidade medieval encantadora, nos montes Abruzzos, à sombra dos altos cumes nevados do grande monte Sasso. Entre muitos participantes e conferencistas, mencionarei o Professor Mauro Manno, cujos artigos voçê poderá achar no meu site (www.israelshamir.net), e o Dr. Tiberio Graziani, editor da revista Eurásia. Pode ler-se a respeito do congresso e das coisas que lá se disseram na página web do professor Moffa. E aqui a minha contribuição:
A gente não deveria se surpreender de que a gentil Clio, a musa da História, se encontre amordaçada. Pois a História não é uma aprazível coleção de dados e fatos. A História é um campo de batalha, pois, ao reescreve-la, pode-se mudar o mundo. Não há quem possa mudar o passado, diz o provérbio, e é verdade. Mas se não estivermos conformes com o nosso presente, podemos mudar a nossa compreensão do passado, e isto mudará o nosso futuro. Estas coisas se sabem desde tempos imemoriáis, e é por isso que a História tem a custódia dos guardiões do mais sagrado, para afiançar a estrutura do poder e dar-lhe um mínimo de continuidade. Quem controlar o passado determinará o futuro. O tema deste congresso trata exatamente desse assunto: estamos incômodos com o presente, nos voltamos para o passado e, ao reformula-lo, planejamos influenciar o futuro. Se algumas partes do discurso histórico são objeto de uma forte defesa, ou se se encontram corrompidos e desorganizados, com mais razão nos corresponde atacar esse discurso.
O Holocausto não é, nem de longe, o único domínio rodeado de sólidas defesas; na História, há outras áreas onde a gente pode se ver em apuros se ousar meter o nariz indevidamente. O antigo caso dos sacrifícios humanos praticado pelos judeus voltou a emergir há pouco na Itália, com a publicação do livro do professor Ariel Toaff, intitulado «Páscuas de sangue»(http://www.israelshamir.net/Spanish/Sp39.htm). Como voçês já sabem, o professor Toaff demonstrou que alguns judeus acusados de seqüestrar e matar crianças cristãs na Idade Média realmente eram culpados, como então o haviam ditaminado os tribunáis. Foram ajustiçados por assassinato brutal, e de nenhuma forma se tratava de vítimas de um suposto preconceito cristão ou de anti-semitismo primordial. A gente poderia pensar que isto deveria comemorar-se, pois não havia nenhuma calúnia e sim um castigo justo; a justiça triunfara e os judeus modernos deveriam se sentirem felizes de que o preconceito anti-judeu medieval não seja nada além de um mito, comparável ao de os alemães convertirem os judeus em sabão.
Porém, as organizações judias não acharam isto nada engraçado. Atacaram o professor judeu, um especialista em estudos medieváis judaicos duma universidade israelense. O professor Toaff, mentalmente torturado, quase crucificado, entrou em pánico, retrocedéu e mandou destruir o livro (por sorte, em nossos dias isso não é tão fácil, e o livro pode ser lido na Internet, por exemplo, no link http://www.vho.org/aaargh/fran/livres7/pasque.pdf); entregou o pouco de dinheiro que tinha recebido do editor à inquisição judia da Antidifamation Defense League, fora obrigado a se desdizer e a abjurar do que tinha escrevido.
O parlamento israelense (Knesset) considera a possibilidade de enviar o Dr. Toaff para a prisão, outros tratam de incrimina-lo pelo que quer que seja. A ideia é que acabe morrendo pobre e pesteado. Aqui na Itália, o mais natural é compararem o Dr. Toaff com Galileu, aquele grande universitário italiano que fora perseguido pela sua descoberta científica, e que preferira abjurar antes que ter de se enfrentar com uma morte feroz.
Mas, na verdade, seria melhor comparar o caso do Dr. Toaff com o de seu colega italiano e também judeu, o Dr. Carlo Guinzburg, autor do livro “O sabá das bruxas.” Guinzburg demonstrou que os friulianos (habitantes de Friuli), perto de Veneza, andavam envolvidos com magia negra, algo procedente dos antigos cultos da fertilidade. Toaff chegara a um resultado semelhante com relação aos judeus, que praticavam a magia negra, e que isto se originava no seu antigo culto de vingança e à salvação pelo sangue. Mas os friulianos não se alteraram, enquanto que os judeus por pouco não lincharam o professor, com o que ficou demonstrado que os friulianos são gente de mentalidade aberta que podem contemplar com mediana curiosidade as malfeitorias de seus antepassados, enquanto que os judeus ainda não fizeram as pazes com a sua exclusividade, sua não-eleição, sua não sacralidade.
Junto ao Dr. Ginzburg, o Dr. Toaff tinha completado o processo de re-interpretação da Idade Média, que Mircea Eliade descrevera tão bem em “Ocultismo, bruxaria e modas culturáis”. Eliade escrevera: “Há uns 80 anos, uns eminentes universitários como Joseph Hansen e Henry Charles Lee, consideraram a magia negra um invento da Inquisição, não dos bruxos. Atribuiram os relatos sobre sabás de bruxas, ritos satánicos, orgias e crimes, a um produto da fantasia, ou como resultado de confissões obtidas através de tortura. Agora sabemos -escreve Eliade- que a magia negra não fora um invento da Inquisição.” E também não o foram, podemos acrescentar, os sacrifícios humanos praticados pelos judeus, e cuja existência está comprovada além de qualquer dúvida.
Toaff pesquisou o caso de Simão de Trento, um menino assassinado ritualísticamente pelos judeus expertos em magia negra. A culpa de umas poucas pessoas judias fora provada pelo melhor tribunal possível naqueles dias, e os judeus que eram inocentes não sofreram mais do que os muçulmanos inocentes nos Estados Unidos, depois do 11 de setembro. Outro caso fora o de Hugo de Lincoln, um menino assassinado ritualmente em 1255: Dos 90 judeus detidos pelo crime, foram libertados mais de 70, sem um arranhão sequer, uma vez comprovada sua inocência; enquanto que os culpados foram enforcados: nada a ver com um linchamento de rua.
Numa nítida demonstração de manifesto etnicismo, a enciclopédia judia pela Internet, Wikipedia, descreve Hugo de Lincoln como “supostamente assassinado”, enquanto que a sentença justificada figura como “infámia”. Aquilo de “infame acusação de crime ritual” é um cunho estandarizado com que assinalam casos como esses, para significarem que se trata de judeus, sempre inocentes, difamados por cristãos preconceituosos. Mas, se se puder tirar uma lição moral destes velhos assuntos crimináis, concluiremos que o senso de justiça e a boa fé européia prevalecera de cada vez; enquanto se castigava os judeus culpados, os judeus inocentes continuaram vivendo e prosperando, sendo a única comunidade não cristã a residir em toda Europa.
A justiça muçulmana não era pior: Em 1840 acontecera em Damasco de um monje ser assassinado por uns poucos judeus que confessaram o crime, e foram catigados. Mas isto não afetou no mais mínimo a prosperidade de seus irmãos, e Farkhi, um judeu de Acre, continuou sendo considerado o homem mais rico da Síria após o escândalo. O caso fora investigado pelo grande orientalista Richard Burton, cónsul britânico em Damasco, quem tinha começado sendo um filo-semita evidente («se tivesse podido escolher a qual raça pertencer pessoalmente, nenhuma teria sido mais de meu agrado do que a raça judia»), mas reconhecera o veredicto neste caso, e fizera um relatório completo sobre o affaire. Os judeus de Londres compraram o manuscrito, pagando por ele aos herdeiros de Burton, e até o dia de hoje não fora possível publica-lo, e está esquecido nos porões do Congresso dos Judeus Britânicos (Board of Deputies). O jornalista britânico e judeu, Aronovitch, censurou a Síria por ter nomeado ministro uma pessoa que tinha se atrevido a escrever sobre isto, mas nunca mencionou a publicação britânica. Somente aludiu a uma «calúnia infame», como se isso explicasse tudo.
Assim é; antes de existir o tema do Holocausto, haviam as «calúnias infames» sobre crimes rituáis. Se a gente ler os textos judeus e judeófilos anteriores à II Guerra Mundial, perceberá que o lugar atualmente ocupado pelo dogma do Holocausto no universo judeo-cêntrico, nunca esteve vacante. Então esse lugar era ocupado pelo tema dos pogroms na Rússia, o caso Dreyfus, a Inquisição, a expulsão dos judeus da Espanha, a destruição do Templo, etc. E, além disso, de forma recorrente, a «calúnia infame». Todas estas evocações acarretavam a mesma mensagem: proclamavam o eterno, único, inverossímil, e sem o mais mínimo motivo, sofrimento dos judeus, causado pelo ódio irracional dos gentios; com isto se unificava e movilizava os judeus em contra dos gentios; se esvairia algo da inveja, da hostilidade e da desconfiança existentes, convertendo isso em compaixão, e inclusive, conseguia-se suscitar sentimentos de culpa entre os melhores goyim.
O caso do Dr. Toaff pode ajudar nossos amigos obcecados pelo tema do Holocausto a entenderem o âmago do assunto. Pessoalmente respeito os dissidentes/negadores por irem contra a maré, mas não comparto de seu zelo. Lógicamente, esses contos a respeito de sofrimentos descomunáis e imerecidos, poderiam discutir-se à luz dos fatos concretos. Isto foi o que fez Serge Thion em relação ao Holocausto, e observara que Elie Wiesel, o grande narrador do Holocausto, preferiu permanecer aferrado aos perseguidores nazistas antes do que ficar com seus libertadores russos (quando os alemães soltaram seus prisioneiros de Auschwitz). A mesma confrontação com os fatos concretos fizeram o Dr. Toaff e Sir Richard Burton com relação aos sacrifícios sangrentos, e chegaram à conclusão de que a resposta das autoridades tinha sido equilibrada e legítima.
O historiador russo Kozhinov investigara sobre os pogroms na Rússia e demonstrara que nestes enfrentamentos violentos morreram em bastante maior número não-judeus, do que judéus! De todos, o maior e mais sangrento pogrom, o de Kishinev, fora descrevido por Biliak, o poeta nacional judeu, como a maior de todas as chacinas, deixando as ruas anegadas em sangue. Num artigo recente do Haaretz, um jornalista israelense escrevera que «ninguém duvida do direito a existir da nação russa, ainda que os cristãos de Kishinev no começo do século XX fincassem as unhas nos olhos das crianças judias». Porém, diferentemente dos casos de meninos italianos ou ingleses torturados até a morte pelos bruxos judeus, as alegações de «unhas fincadas nos olhos, etc.» eram um simples broto da fantasia, que fora desmentido em seguida; na verdade, em Kishinev não mais do que 45 pessoas perderam a vida, isto é, a quarta parte dos assassinados em Deir Yassin, ou o equivalente à colheita mensal durante a Intifada (levante popular palestino -N. do T.).
De modo tal que, todos esses contos de sofrimento imerecido, podem ser objeto de revisão, mas não para nos preocuparmos com isso, pois o único que pretendem os produtores de semelhantes relatos é difundirem a idéia de que os judeus são únicos e distintos, têm sofrido mais do que ninguém no mundo, e que por isso devemos abrir-lhes o caminho, que são o que há de melhor, enquanto que quem ousar pôr algo sob suspeita é impugnado de estar obcecado por um anti-semitismo místico. Esses relatos são levados adiante para despertarem a fúria em contra dos seus supostos perseguidores, e só!
Me enojam esses contos de vítimas coletivas, e não somente porque sua base factual seja fraca. Pois não são o resultado, é sim a própria causa do sofrimento. Cada vez que se publicam relatos a respeito de persecução não provocada, não duvidéis: Seus promotores estão preparando alguma atrocidade bestial muito característica deles. Os judeus ergueram a história do holocausto, e acabaram com a pacífica população palestina em 1948. Os armênios recitaram a história do seu sufrimento único e não provocado, e seguidamente massacraram azeris inocentes em Qarabag, durante a guerra de 1991-94, enviando a Bakú centenas de milhares de refugiados. Poloneses e tchêcos enardecidos pelos relatos dos seus próprios sofrimentos sob o Reich expulsaram milhões de alemães étnicos de suas terras ancestráis; enquanto que os ucranianos, que relataram os contos de seu próprio sofrimento em Rzecz Pospolita, massacraram milhares de poloneses em Volyn.
As políticas nacionáis são paralelas às políticas de género, como sublinhado por Otto Weininger: Assim, as feministas promoveram um discurso a respeito do sofrimento das fêmeas sob a eterna opressão dos machos, e com isto provocaram o colapso de muitas famílias, o empobrecimento das mulheres e a emasculação dos homens. Um discurso desse tipo pode equilibrar-se com um discurso contrário. Por um lado, é verdade que os homens acostumam recorrer à violência física, mas, por outro, as mulheres são muito mais eficazes na agressão verbal. A língua usada como açoite por lady Macbeth não era menos culpável do que a faca afiada do senhor Macbeth. As mulheres sabem como provocar um homem; e os homens respondem, às vezes com um beijo, outras com uma bofetada, ou com balas. José matou, mas Carmen fora quem provocara. Apesar do muito promocionado mito das garotas estilo arame-farpado, as mulheres não tem tanto êxito quando de força física se trata, pelo que tentam proibir a violência física, mas permitem a violência verbal, e conseguem desterrar até o próprio conceito de provocação.
Retomando nosso tema, se os turcos mataram, os armênios eram os que tinham provocado; e cada vez que houve movimentos contra os judeus, foram causados pelas ações dos judeus. Definitivamente, sou um negador da própria existência do anti-semitismo, sendo definido este como «ódio irracional contra os judeus». Não existe tal coisa. Se lutou contra a Judiaria por ser ela um poder; como o foram a Igreja Católica Romana, e até a Standard Oil Co. Os judeus não eram cordeiros, e sim um fator ativo da vida ideológica e económica das sociedades nas quais estavam inseridos. A gente pode estar a favor ou em contra deles. Mas, nada de ódio, com certeza não. Os não-judeus tem sido mais leáis aos judeus, em muitos casos, do que os judeus para com os não-judeus. Até a «calúnia infame» resultou não ser calúnia, mas sim um tipo clássico de crime.
Tiveram lugar ações anti-judias na Europa e no Oriente Médio? Com certeza. Mas, era um «ódio irracional» o causador? Quem pode acreditar? Em 1911, o governo dos Estados Unidos desarmara o poderoso império de John D. Rockefeller. Como não era judeu, Rockefeller não pôde gritar que faziam isso por anti-semitas. Não disse que o faziam porque não agradavam suas feições, sua raça, sua educação ou seu jeito, ou porque fosse o castigo divino pelos seus pecados. Simplesmente acabaram com a Standard Oil Company porque se tornara demasiado poderosa.
Pela mesma razão de valor, o presidente russo Vladimir Putin acabara com a apropiação privada mafiosa da companhia petrolífera Yukos e a dos seus ilegítimos donos, uma verdadeira gangue de oligarcas facciosos (principalmente Mikhail Jodorkovsky). Não porque fossem judeus ou porque defendessem a democracia. O poder cria a demanda de um contra-poder, a força chama à força contrária, e os judeus eram e continúam a ser um poder.
A Judiaria é mais sólida do que a Igreja Católica, isto nos é ensinado pelo destino dum cientista italiano com quem podemos comparar o Dr. Toaff. Ontem, saindo da Praça Central, vi uma placa comemorando Giordano Bruno, mártir da ciência. Lia-se no cartaz: «Morto pela Igreja Católica, inimiga da ciência». Isto você pode dize-lo livremente, e ninguém vai injuriá-lo histéricamente: «Mas, como a Igreja!? Por acaso, toda a Igreja? Quer dizer que as centenas de milhões de católicos, desde o Brasil até a Polónia, também são culpados? Quê cafajeste! O senhor é um anti-católico!» Certamente, o último Papa pedira perdão por isso, por vontade própria.
Em vão procuraria uma placa que comemore o filósofo, cientista e cético rabino Samuel Ibn Zarza, autor de “Miklal Yofi”, quem expressara suas dúvidas a respeito da criação, e fora queimado na fogueira em Valéncia, por ordem dos judeus. Já estou pronto para que me gritem: «Mas, como os judeus? Por acaso, todos os judeus? Anti-semita!» O que acontece que ninguém diz nada a respeito deste caso?
Continuemos. No “Livro das linhagens”, um livro judeu do século XV que tive o prazer de traduzir para o inglês, há um comentário que diz: «Quando os rabinos leram ‘em tal ano depois da criação do mundo’ o erudito Zarza colocou a mão na barba, e com esse gesto estava aludindo à pre-existência do mundo. Então o chefe dos rabinos, Isaac Campton, ergueu-se e disse: por quê não arde «la zarza»(em espanhol, «a sarça»- N. do T.)? Sarça ardente é o que se merece o Zarza! (em alusão ao episódio de Êxodo 3:3). Os rabinos o levaram ao tribunal e o condenaram a morte pelo fogo, por ter acreditado na pre-existência do mundo».
Assim é que temos o caso de dois cientistas, que foram a parar na fogueira. Se nos adentrarmos nos detalhes, acharemos ainda mais semelhanças. Samuel Ibn Zarza fora executado pelo tribunal a pedido dos judeus. Há alguns sináis de que os judeus foram ativos, nos bastidores, para conseguirem que se desse morte também a Giordano Bruno, porque era fortemente anti-judeu. Giordano Bruno dizia a respeito dos judeus:‘aquela raça tão pestilenta, leprosa e reconhecidamente perigosa, que mereceria ser tirada de raíz e destruida, inclusive, antes de nascer’ (Giordano Bruno,Spacio delal Bestis Trionfante (1584). Essa opinião pesou na sua condenação a morte, pois já naquele tempo, os judeus podiam fazer chegar sua opinião às autoridades, e sempre haviam suficientes oficiáis dispostos a acatarem suas ordens. Mas, no caso de Giordano Bruno, não há vestígios evidentes disto, e por isso segue-se lembrando do seu caso (como o de um mártir), enquanto que o caso de Samuel Ibn Zarza tem caido no esquecimento ou na denegação.
Se abrirmos a enciclopédia Wikipedia na Internet, concebida por judeus, lê-se o seguinte: “A pesar de que Samuel Shalom (um rabino judeu do século XVI) explica que Zarza fora queimado na fogueira pelo tribunal de Valéncia por denúncia feita pelo rabino Isaac Camptom, quem o acusara de negar a criação do mundo, os historiadores tem demonstrado que esta afirmação é ‘pura fábula’”. Quer dizer que, o ministro da verdade judia, quem faz a História ou a veta, ainda é capaz de decidir e impor sua versão a respeito do que acontecera, e que continúa sendo “pura fábula”! A Igreja Católica não pode nem sonhar com um poder de tamanho alcance.
Pode ser quantificado o poder judeu? Alguns meses atrás, o semanário britânico The Economist publicara um mapa incomum do mundo. O território de cada país estava representado de acordo com seu PIB (produto interno bruto). É um mapa revelador: A Índia resultava mais pequena do que a Holanda; a América Latina inteira não era mais grande do que a Itália; Israel era maior do que todos seus vizinhos árabes. Este mapa não era exatamente o mapa do poder; para se desenhar o verdadeiro mapa do mundo deveríamos considerar outros parámetros: O poder militar, tanto nuclear como convencional; a influência no discurso público, através de filmes, livros, jornáis, cátedras universitárias, posições internacionáis. Num auténtico mapa do poder, a Judiaria pareceria bastante impressionante, pois os judéus são um poder importante neste mundo em que vivemos. É um poder de primeira categoria, mais forte do que a Igreja Católica; mais forte do que a Itália ou que qualquer Estado européu; mais forte do que a Shell e a AGIP, ou qualquer outra multinacional.
Nos estudos cosmológicos há um fenômeno chamado de buraco negro: Uma estrela muito densa e pesada muda a geometria do espaço em volta dela, e os raios de luz não podem escapar da armadilha gravitacional que ela cria. Esta estrela, que é o buraco negro, é invisível porque é muito poderosa. Da mesma forma, a Judiaria (2) é um buraco negro. É tão poderoso que não se vê. A gente não está autorizado a vê-lo, e esse é o tabú mais forte nos dias atuáis. O debate a respeito de se o rabo movimenta o cachorro, ou vice-versa, acerca do lobby judeu nos Estados Unidos, é uma tentativa para irmos nos aproximando do tabú sem realmente quebranta-lo. Claro que um pequeno país do Oriente Médio, chamado Israel, não pode “mover o cachorro U.S.A.”. O lobby israelense da AIPAC e seus sócios não podem pesar muito, por muito que se esforcem. Mas o lobby israelense e o Estado de Israel são percebidos como manifestações do buraco negro, do grão inomeável: A Judiaria moderna.
Em um debate recente entre James Petras e Norman Finkelstein, Petras chegara muito perto do âmago da questão ao descrever o lobby pro-israelense como “uma engranagem de centros de reflexão pro-sionistas que vai do American Enterprise Institute e desce, e uma configuração de poder completa que não compreende somente a AIPAC mas também os presidentes das Major Jewish Organizations (Maiores Organizações Judias da América) que somam 52, mais uma série de indivíduos que ocupam posições estratégicas no governo (Elliott Abrams e Paul Wolfowitz, Douglas Feith, entre outros)…; o exército de escritores assalariados que tem acesso aos principáis jornáis; os contribuintes super-ricos que financiam o Partido Democrata; os magnatas da imprensa com peso no Congresso e no Executivo”. Não se trata de um lobby, é a Judiaria e ponto final.
Por quê a Judiaria é tão poderosa agora? Em meu livro Pardes, ofereço uma explicação: Sendo históricamente uma igreja alternativa, a Judiaria tinha como enemiga tradicional a igreja apostólica. Quando a autoridade da Igreja Católica Romana viu-se vencida, a alternativa adquiriu força. Mas se esta explicação for demasiado complicada, ou inaceitável, para os materialistas estritos, podemos traduzir isto em dólares ou libras.
O magnata judeu Zev Chafets saira em defesa do desportista americano Richardson que fora suspendido por dizer que os judeus são poderosos e astutos. Richardson dissera: “Os judeus tem o melhor sistema de segurança do mundo. Já esteve alguma vez no Aeroporto de Tel Aviv? São verdadeiramente cautelosos. Olhe como são odiados em todo mundo, têm de serem precavidos. Possúem muitíssimo poder neste mundo, entende? Eu acho isso o máximo. Não o vejo como algo ruim. Se olhar o que acontece na maioria dos esportes profissionáis, verá que os judeus os controlam. Se prestar atenção nas multinacionáis de maior êxito, as empresas que fazem mais negócios, são controladas pelos judeus. Não é nada especial que sejam gente cautelosa.” Chafets retorquiu: “Me desculpe, mas Richardson não disse nada ofensivo. É verdade que os judeus, como povo, são magníficos, o tenho experimentado. E sentem orgulho disso (especialmente os que não se manifestam). Que outra coisa ferina se supõe que Richardson dissesse? Que Israel tem o melhor sistema de segurança aeroportuária do mundo? Isto é ao mesmo tempo verdade e algo que o próprio Israel divulga. Que os judeus são odiados e necessitam se proteger? Essa é a premissa fundacional da Anti Difamation League. É claro que Richardson exagera quando diz que os judeus possúem a maioria das equipes desportivas. Até onde eu saiba, os judeus (1% da população) só possúem ‘a metade’ das equipes na NBA (e também uma proporção bastante significativa no baseball e o football). E daí? A mesma coisa vale para a observação de os judeus possuírem um monte de negócios exitosos, é a verdade dos fatos. Os judeus parecem ser o grupo étnico de mais êxito económico nos Estados Unidos. Onde está o problema?”
Esta pergunta (“Onde está o problema?”) fora respondida por David C. Johnston no New York Times. Escrevera: A desigualdade de ingressos nos Estados Unidos crescera notavelmente em 2005: 1% dos cidadãos que estão no topo -aqueles com ingressos anuáis de mais de US$ 348.000 – receberam a maior parte da renda nacional desde 1928, isto é o que demonstram os novos relatórios a respeito de impostos. Os novos dados também mostram que os 300.000 cidadãos do topo desfrutaram coletivamente da mesma renda que os 150 milhões de estado-unidenses que estão mais abaixo. Por pessoa, o grupo de cima recebera 440 vezes mais do que recebe uma pessoa no último ponto da escala, com o qual fica multiplicada por dois a distância entre eles, desde 1980.”
Uma pergunta que Johnston não responde (nem sequer propõe) é: “Dos 300.000 estado-unidenses de cima que desfrutaram em conjunto de uma renda comparável à dos 150 milhões de estado-unidenses abaixo”, quantos pertencem ao grupo étnico económicamente mais exitoso dos Estados Unidos? Por acaso não era previsível que, por falta de uma igreja nacional ou de outras limitações não económicas, sua influência na política U.S.A. fosse drásticamente proporcional à sua renda coletiva?
A “democracia” é um sistema político ideal onde cada pessoa tem um voto e todos os votos valem o mesmo. Este ideal, difícilmente pode ser feito realidade, ainda quando não intervenha a desigualdade económica, porque há gente mais ou menos influente, segundo suas próprias habilidades. Nas condições descrevidas por Johnston, quando um membro da elite recebe a renda de 500 pessoas comuns, a democracia acha-se severamente socavada. Mas este ideal resulta totalmente atraiçoado se essa gente da elite possuir a mídia e, portanto, tem uma capacidade de formatar a visão do mundo, dos outros. Se esses amos da mídia congregam seus recursos, como acontece nos Estados Unidos, a democracia perde todo sentido. Concordo, de todo coração, com Frau Angela Merkel, quando diz: “Uma imprensa livre é a pedra angular da nossa sociedade e a base de todas as liberdades”. Mas não consigo adivinhar por quê ela considera que a imprensa é livre quando está nas mãos de judeus e judeófilos, como Alfred Neven Du Mont, dono das editoras mais antigas da Alemanha e parcialmente propietário do jornal israelense Haaretz, ou no caso italiano, nas mãos do próprio Berlusconi (em cuja festa de aniversário ela falara). Por quê esta imprensa se supõe mais livre do que uma controlada pelo Estado, como na Rússia de Putin? Um Estado sempre pode pretender que representa a todos os cidadãos…
Por quê insisto no assunto dos “amos judeus e judeófilos”? Por acaso, “amos da mídia” não bastaria? Na verdade, não. O jornal Haaretz, cujo proprietário é Du Mont, pode publicar um ensáio chamado “Confissões de um racista anti-alemão”, mas um jornal alemão dirigido por Du Mont jamais publicaria um artigo de alguém que odeie os judeus. A judeofilia integra os amos da mídia e suas multinacionáis numa só maquinária totalitária, como a ideologia comunista integrava toda a mídia soviética numa só entidade totalitária (e chata). Esta comparação pode extender-se: Nos Estados Unidos, e no Ocidente em geral, a Judiaria ocupa o ápice do controle que ocupara em seu tempo o Partido Comunista na União Soviética; apenas mencionado na Constituição, sem formar parte do aparelho estatal formalmente, esta entidade opaca controlava todos os processos e não estava controlada por forças externas. João Silva não está representado na lista dos presidentes das maiores organizações judias da América, assim como Ivan Públikov não estava representado no Buró político.
Antigamente, essa posição era ocupada pela Igreja. As campanhas anti-clericáis consumiram muita energia e pensamento do povo, no final do século XIX e no começo do XX. A principal queixa era a de que a Igreja controlava a sociedade, mas não era controlada pela sociedade. O Partido Comunista na Rússia (o Partido Fascista na Itália, salvando as conhecidas e reconhecidas diferenças) teve de enfrentar a mesma reclamação. Agora é chegado o momento de se exigir a prestação de contas do último usurpador, pois a maioria não encomendou à Judiaria que orientasse nem controlasse seu modo de pensar. A excessiva influência da Judiaria é um indicador da falta de democracia: Em um país verdadeiramente democrático, a Judiaria teria uma influência proporcional a seu número de membros. Mas, a História ainda não acabou, e a liberdade pode renascer mandando à Judiaria, como se fizera com a Igreja e o Partido, para um nicho modesto dentro da nossa sociedade dinâmica.
Os revisionistas do Holocausto acreditam que o poder judeu desmoronará se socavarem o discurso dominante a respeito do Holocausto. Acreditam que “o poder judeu está apoiado sobre uma mentira”. Eu não concordo. O poder da Judiaria é muito real, está fundamentado no dinheiro, na ideologia, e em tudo o que possa servir a um poder para se estabelecer. Esse poder real poderia e deveria ser derrubado, e então o discurso sobre o Holocausto já não interessará a ninguém, a não ser aos parentes próximos.
Se se deixarem levar pelo amor à liberdade e à compaixão, esta solução será benéfica para os judeus, individualmente. Qual é a posição do judaismo individual em relação à Judiaria? É a mesma que a do indivíduo membro do Partido em relação ao Partido. Nos últimos dias da União Soviética, havia 16 milhões de membros do Partido; era conveniente ser membro, mas assim que ser membro do Partido deixou de trazer benefícios, o número de membros diminuiu e ficara reduzido a algumas centenas de milhares de pessoas. Não vejam isso como uma tragédia: Os comunistas de ontem recobraram a liberdade. Alguns deles (como Boris Yeltsin) se transformaram em anti-comunistas, outros trocaram a política pela fé, ou pelo comércio, ou pelos negócios. Os que permaneceram comunistas também não lamentam o colapso, porque se distanciaram dos hipócritas, e já não têm de procurar satisfazer milhões de pequenos-burgueses; agora podem proclamar sua verdadeira crença.
Da mesma forma, desfazer a Judiaria reduzindo sua influência a algo proporcional ao número de seus membros causará um êxodo ideológico massivo. Dos 16 milhões de judeus, provavelmente há apenas algumas centenas de milhares que se manterão fiéis à lei mosaica e ao Talmude, ao estudo da Kábala (Deus os abençoe!), enquanto que o resto descobrirá outros interesses e aflições (que Deus também os abençoe). Todos eles agradecerão aos dissidentes como o Dr. Toaff, quem sepultara o mito do anti-semitismo e lhes ajudara a recobrarem sua liberdade.
Por acaso não podem ser livres dentro do âmbito da Judiaria? Nos anos 1970-80, deu-se um debate similar em relação à liberdade e ao pluralismo no próprio seio do Partido Comunista. E, certamente, nada saira dali. A Judiaria não é menos monolítica do que o Partido, também permite algumas divergências de opinião, mas a diversidade não abarca o suficiente. Pelo lado da direita, está Gilad Sharon (filho de Ariel Saharon) que quer tomar dos não-judeus a sua cidadania israelense; do outro lado está Uri Avnery, quem de fato está propondo a mesma coisa. Podemos e deveríamos ajudar os judeus a recobrarem sua liberdade, como acontecera com os membros do Partido, e antes destes, com os paroquianos da Igreja, que receberam ajuda para recuperarem a liberdade nas suas escolhas pessoáis.
(Versão portuguesa: Darío Fernández).
Notas: (1) A versão original deste documento contém abundantes referências de fontes em inglês; ver:http://www.israelshamir.net/English/Eng16.htm
(2) Pode-se distinguir a Judiaria, como agrupação tradicional, da Judiaria moderna, verdadeira instituição que tenciona reger o mundo não-judéu.